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Notícias • 06/08/2018
Desafio de inserir a Fisioterapia na atenção primária é garantir qualidade de vida aos usuários do SUS

Aprimoramento de políticas precisa ampliar olhares acerca da Fisioterapia

Uma das principais conquistas da saúde pública brasileira, as políticas de Atenção Primária à Saúde, são consideradas um grande avanço no contexto da implementação e fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde).

Trata-se da participação das equipes de Saúde da Família, no contexto do território onde as pessoas vivem, com suas características populacionais e sanitárias como propulsora de estratégias de intervenção que garantam a melhoria da qualidade de vida dos moradores daquela região, observando especialmente o cuidado longitudinal e continuado, de acordo com as demandas populacionais.

Todavia, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas a fim de garantir a cobertura eficiente dos serviços de saúde propostos aos usuários. A devida inserção da Fisioterapia está entre essas brechas.

Atualmente, a Fisioterapia está alocada na Atenção Primária por meio do NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) e tem se mostrado cada vez mais relevante na melhoria da saúde dos usuários. Neste caso, a cobertura se estende a várias equipes de Saúde da Família, realizando o que é denominado de apoio matricial, que são orientações e ações especializadas, pontuais, individuais ou coletivas, impossibilitando a atenção individualizada e por período prolongado, requerida pela maior parte das condições de limitação funcional encontradas na população.

BAIXO ACESSO

São comuns relatos de pacientes crônicos acamados - e que dependem do acompanhamento de fisioterapeutas para a reabilitação - que não tem o devido acesso ao profissional, por exemplo. “Estes usuários estão em casa, no território da Atenção Primária à Saúde, mas não têm acesso à assistência adequada. Na minha experiência durante o doutorado, poucos pacientes conseguiram usufruir de Fisioterapia”, aponta o docente do curso de Fisioterapia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Arthur de Almeida Medeiros, que também integra a Comissão de Educação do CREFITO 13.

Segundo ele, a efetiva inserção de fisioterapeutas nas Equipes de Saúde da Família, e não apenas no NASF, facilita o acesso aos pacientes restritos ao domicilio e com comprometimento de sua funcionalidade.

“O que se nota é que nos casos dos usuários acamados - aqueles com doenças crônicas e que vão precisar de cuidados por grande parte da vida - acabam sendo negligenciados, e ficam à margem do cuidado. E a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional ajudariam no sentido de promover a saúde das pessoas”, aponta Medeiros.

QUALIDADE DE VIDA

O diretor secretário do CREFITO 13, professor Fernando Pierette Ferrari, também ressalta que a garantia da atenção fisioterapêutica a esses pacientes assegura a melhora “no desempenho do autocuidado, na realização de suas atividades básicas de vida diária e pode promover avanços no movimento e função que permitam mais independência motora, como a  locomoção independente”, completa Ferrari.

A supervisora de estágio em atenção básica, Laís Souza, que também compõe a comissão de educação do CREFITO 13, corrobora com essa afirmação ao relatar que a demanda reprimida pela atenção fisioterapêutica é muito grande. "Os alunos têm um limite de atendimentos por dia, pois estão em processo de aprendizagem, e rotineiramente necessitamos escolher as pessoas que mais precisam do nosso cuidado naquele momento. Temos como premissa fazer o rodízio de paciente, visando ofertar oportunidade ao maior número de pessoas", pontua.

Segundo Souza,  há poucas vagas para o atendimento nas clínicas conveniadas, o que faz com que os usuários tenham um número de sessões de fisioterapia menor do que a necessidade para a reabilitação, agravado pela distância e pela falta de recursos para ao deslocamento. “Com o passar do tempo, as pessoas desistem e perdem a oportunidade de ter maior funcionalidade no dia a dia e consequentemente, mais qualidade de vida”.

BENEFÍCIOS E ATUAÇÃO

A inserção do Fisioterapeuta e da Terapia Ocupacional no serviço de Atenção Primária à Saúde é um processo em construção, uma luta defendida pelo CREFITO 13. Neste processo, ampliar horizontes acerca das atribuições dos fisioterapeutas também faz parte da estratégia de luta, isso porque a limitação destes profissionais apenas à condição de reabilitadores de disfunções físicas  contribuiu, por muito tempo, para a dificuldade de participação da categoria na Atenção Primária, bem como para prejudicar o usuário que poderia ser impactado positivamente por esses serviços.

Assim, o aprimoramento da atuação destes profissionais no território da Atenção Básica à Saúde deve promover o olhar que transcende as atividades de reabilitação. Afinal, muitas vezes, o acompanhamento de profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais qualificados permite que se alcance diagnósticos de detecção de determinados atrasos no desenvolvimento em crianças, por exemplo. “Neste caso, a parceria com escolas seria uma estratégia interessante a ser explorada”, aponta Medeiros.

Outro dispositivo que pode ser explorado é a implantação da funcionalidade como indicador de saúde. “Quando  tornamos o indivíduo, que de alguma forma está incapacitado, apto a efetuar suas atividades diárias,  reconhecemos que este precisa ser um trabalho diário, em acompanhamento contínuo. A Fisioterapia, especificamente, consegue atuar também na prevenção, na manutenção da saúde, nos diversos ciclos de vida, na promoção da qualidade de vida dos usuários. Esta certamente é uma bandeira de luta da categoria”, aponta Arthur.

Neste contexto, a inserção de fisioterapeutas nas equipes de Saúde da Família, permite que este cuidado essencial chegue aos lares dos pacientes tornando-se um fator preponderante para o desempenho de um tratamento adequado, que levará em conta as necessidades dos usuários com base na vivência de suas rotinas. “Este profissional vai participar do dia a dia dos usuários, não só dos acamados, mas das gestantes, dos hipertensos, das pessoas que precisam de orientação quanto ao desenvolvimento da criança, das mulheres em geral. Os benefícios para os usuários são muitos.”, conclui o pesquisador.

Acessibilidade

O presidente do Conselho
Regional de Fisioterapia e Terapia

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